Nos últimos meses, diversos casos de intoxicação por bebidas adulteradas reacenderam o alerta sobre o consumo de produtos irregulares no Brasil. Em muitas cidades, circularam relatos de pessoas que passaram mal após ingerir bebidas supostamente contaminadas com metanol, um álcool tóxico que pode causar cegueira, falência orgânica e até a morte.
Mas afinal, o que é verdade nessa história? O metanol é realmente “colocado” nas bebidas? Ou existe um outro processo por trás dessa contaminação?

O que é o metanol e por que ele é perigoso
O metanol (CH₃OH) é um tipo de álcool usado principalmente na indústria química e automotiva — presente em combustíveis, solventes e produtos de limpeza.
É altamente tóxico para o organismo humano: mesmo pequenas quantidades podem causar danos severos ao sistema nervoso, aos rins e à visão.
Durante a fermentação natural de frutas ou cereais, pequenas quantidades de metanol podem surgir como subproduto. Por isso, ele está presente em níveis mínimos em bebidas alcoólicas legalmente produzidas, dentro de limites considerados seguros.
O problema surge quando há erro no processo de destilação ou uso de álcool industrial para baratear custos. Nesses casos, as concentrações de metanol aumentam drasticamente, tornando a bebida perigosa para o consumo.

Quanto de metanol é permitido por lei
A legislação brasileira, através do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), define limites seguros de metanol nas bebidas. Esses valores garantem que o processo produtivo esteja dentro dos padrões técnicos e sanitários.
De acordo com o Regulamento Técnico de Identidade e Qualidade da Cachaça (IN MAPA nº 13/2005), o teor máximo permitido é de 20 mg de metanol por 100 mL de álcool anidro.
Já em vinhos e fermentados, o limite pode variar entre 300 e 400 mg/L, dependendo do tipo e da matéria-prima utilizada.
Esses parâmetros são monitorados por análises laboratoriais e fazem parte das etapas obrigatórias de controle de qualidade para produtores e distribuidores.
O cenário das bebidas ilegais no Brasil
O mercado de bebidas alcoólicas no Brasil ainda enfrenta um grande desafio: o consumo de produtos sem registro, sem nota fiscal e sem fiscalização adequada.
De acordo com estudos da Euromonitor e do Instituto Brasileiro de Ética Concorrencial (ETCO), cerca de 15% a 20% das bebidas consumidas no país são ilegais — fabricadas ou comercializadas fora das normas sanitárias.
Essa informalidade não representa apenas prejuízo econômico, mas um risco real à saúde pública. O uso de álcool industrial ou de técnicas inadequadas de destilação pode gerar teores altíssimos de metanol, com consequências graves para quem consome.
Além disso, um único lote adulterado pode atingir diversas cidades, já que essas bebidas circulam sem controle de rastreabilidade e sem inspeção de origem.
O papel dos estabelecimentos: responsabilidade e prevenção
Donos de bares, restaurantes, distribuidoras e estabelecimentos que comercializam bebidas têm papel fundamental na prevenção desse tipo de risco.
A legislação brasileira, por meio do MAPA, estabelece métodos e parâmetros de controle que devem ser rigorosamente seguidos.
Isso inclui:
- Aquisição de insumos e bebidas apenas de fornecedores regularizados e com nota fiscal;
- Armazenamento adequado, evitando calor excessivo e exposição à luz;
- Rastreamento de lotes e registros de procedência;
- Acompanhamento de análises laboratoriais, sempre que necessário.
Garantir a conformidade dessas etapas não é apenas uma exigência legal, mas uma demonstração de responsabilidade com o cliente e com a própria marca.

Conclusão
O metanol não “aparece do nada” nas bebidas. Ele é resultado de falhas de processo, negligência ou adulteração proposital — e o risco é ampliado pelo consumo de produtos sem procedência.
Por isso, cada etapa da cadeia produtiva e de comercialização precisa ser acompanhada com atenção, técnica e ética.
Investir em qualidade, rastreabilidade e controle é proteger vidas, fortalecer a credibilidade do negócio e contribuir para um mercado de bebidas mais seguro e transparente.